Organização ambientalista Friends of Earth (FOE) pretende bloquear a exploração de gás natural no norte de Moçambique. Instituto Tony Blair defende que este tipo de limitação condena os países à contínua pobreza.
A FOE planeia ir a tribunal em dezembro, com o propósito de impedir o financiamento britânico à exploração de gás natural no norte de Moçambique. Em entrevista à agência de notícias Lusa esta segunda-feira (01.11), o ativista Tony Bosworth considera que "a transição deve ser feita para as energias renováveis, garantindo que países como Moçambique dão o salto sobre o gás".
Segundo o ativista, o Governo deve apoiar decisões que encaminhem os países a cumprir as metas ambientais.
No ano passado, o Governo britânico anunciou que iria contribuir com até 1,15 mil milhões de libras (cerca de 1,36 mil milhões de euros) para o projeto de gás natural liquefeito no norte de Moçambique.
No entanto, a FOE quer que este investimento seja declarado ilegal, tendo em conta os compromissos feitos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa previstos no Acordo de Paris. As audições no Tribunal Superior (High Court) estão previstas para decorrer entre 7 e 9 de dezembro.
Segundo Bosworth, o Reino Unido, enquanto país anfitrião da cimeira climática COP26, devia "mostrar que está a levar a sério o combate às alterações climáticas e retirar o financiamento ao projeto de gás natural em Moçambique".
Consequências do cancelamento de projetos
A FOE discorda do relatório emitido pelo Instituto Tony Blair, que alerta para as consequências do cancelamento de projetos deste tipo em países pouco desenvolvidos – se países com altos rendimentos "limitarem as oportunidades de desenvolvimento sem oferecerem alternativas igualmente acessíveis, correm o risco de condenar estes países à contínua pobreza e insegurança alimentar", explica no documento Uma Transição Justa para África: Defesa de um Caminho Justo e Próspero para Zero Emissões.
O economista Michael Jacobs, antigo assessor especial do ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, apreciou o ponto de vista de Tony Blair e relembrou que Moçambique atualmente emite baixos níveis de dióxido de carbono. "É responsabilidade dos países desenvolvidos fazer o máximo (na redução de gases com efeitos de estufa)", explica Jacobs e completa: "Acho muito difícil dizer a um país pobre que não deve utilizar os recursos de que dispõe".
Para Jacobs, Moçambique é um exemplo de um conflito que vai estar no centro das negociações sobre as alterações climáticas na COP26. "As negociações internacionais sobre o clima são uma questão de justiça sobre quem tem de fazer o esforço e quem tem a responsabilidade historicamente", resume.