O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, efectuou esta semana uma visita ao Malawi, que permitiu sanar algumas divergências entre os dois países, mas continua pendente a questão da navegação do rio Zambeze pretendida pelos malawianos para as suas transações comerciais internacionais.
As relações entre os dois países sempre foram bastante complicadas e degradaram-se muito nos anos da presidência do falecido Bingu Wa Mutharika, devido, fundamentalmente, à questão do porto fluvial de Nsanje, a partir do qual o Malawi pretendia ter um acesso mais rápido ao mar, mas Moçambique opôem-se à ideia, alegando questões ambientais.
Uma coisa ficou clara nesta visita de Filipe Nyusi: é que o Malawi, que teimava em não comprar energia barata produzida na barragem moçambicana de Cahora Bassa, preferindo importar combustível mais caro, decidiu embarcar num projecto de interconexão eléctrica com Moçambique, que arrancou esta terça-feira.
Filipe Nyusi disse, no lançamento do projecto, que a sua implementação significa uma nova visão das autoridades malawianas.
Para o analista Moisés Mabunda, a deslocação do estadista moçambicano ao Malawi consolida a nova era de relacionamento entre os dois países, iniciada com a recente visita a Moçambique, do Presidente malawiano, Lazarus Chakwera.
"Isso ajuda muito na estabilidade de Moçambique, porque muitas dos emigrantes ilegais passam por aquelas fronteiras que nós temos com o Malawi", realçou aquele analista.
Navegação do Zambeze
Não foi revelado se a questão do porto fluvial esteve em cima da mesa durante as conversações entre Nyusi e Chakwera, numa altura em que algumas correntes de opinião afirmam que os malawianos podem estar a pretender deixar morrer este assunto.
Contudo, Mabunda não acredita que isso esteja a acontecer, afirmando que, eventualmente, as autoridades malawianas tenham uma outra estratégia de abordagem do assunto, porque eles estão obcecados com a questão da navegação do rio Zambeze.
Várias outras questões afectam as relações entre os dois países, entre as quais, a detenção, na semana passada, de malawianos na posse de cornos de rinoceronte, conflitos entre pescadores do Malawi e de Moçambique no Lago Niassa, constantes violações da fronteira comum, disputas de terras entre agricultores e muitas outras situações.
Um dos mais graves incidentes ocorreu em 2010 quando Moçambique apreendeu um navio com destino ao Malawi transportando fertilizantes nas águas do rio Zambeze.
O analista Francisco Matsinhe, diz que Filipe e Chakwera estão a apostar numa nova forma de aproximação, que vai ajudar a resolver estas e outras questões, recordando a tensão havida no passado, sobretudo por causa da navegação do rio Zambeze.
Matsinhe disse não acreditar que o projecto de construção do porto de Nsanje, para a navegação do rio Zambeze, avance, porque Moçambique defende que o Malawi use o sistema ferroviário para o escoamento das suas mercadorias.
"Mas foi uma visita importante que resultou na assinatura de protocolos de cooperação em áreas importantes como comércio e recursos minerais", destacou.
O Alto Comissário de Moçambique no Malawi, Elias Zimba, diz que a visita de Nyusi é muito mais importante para os malawianos, porque depois desta deslocação, "o Malawi será o país que mais projectos e maior relacionamento terá, no contexto da SADC".(x) Fonte: VOA