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sexta-feira, 26 novembro 2021 12:32

Eleição controversa do Presidente da Interpol: "A tortura não é um meio válido"

O general Ahmed Nasser Al-Raisi é o novo Presidente da Interpol. O general Ahmed Nasser Al-Raisi é o novo Presidente da Interpol.

O general dos Emirados Árabes Unidos, Ahmed Nasser al-Raisi, alvo de várias acusações de tortura em França e na Turquia, foi eleito Presidente da Interpol, esta quinta-feira, em Istambul, na Turquia.

Pedro Neto, director executivo da Amnistia Internacional, defendeu, em entrevista à RFI, que a escolha deste representante não teve em conta o historial deste oficial nem tão pouco as acusações internacionais que pendem sobre ele na justiça.

"A eleição e a escolha dos representantes teve em conta todo o trabalho de campanha, do major general, bem como todos os donativos que foram feitos pelos Emirados Árabes Unidos e não teve em conta o histórico deste oficial, o que ele fez internamente e as acusações que pendem sobre ele na justiça, inclusivamente acusações internacionais", começou por defender o nosso entrevistado.

Pedro Neto referiu ainda que se o novo Presidente for à sede da Interpol, em França, corre o risco de nesse país ser detido por causa das investigações e acusações que pendem sobre ele. Segundo o responsável da Amnistia Internacional, o que está em causa é um "desrespeito pela lei internacional, pelas convenções contra a tortura e uma arbitrariedade grande".

O director da Amnistia Internacional deu o exemplo de casos concretos em que Ahmed Nasser al-Raisi está envolvido.

"Há aqui casos nas mãos deste senhor que têm a ver com detenções e tortura a defensores de direitos humanos. Um caso é o do activista e defensor de direitos humanos Ahmed Masur. Há uma pessoa até que foi detida porque estava a utilizar uma camisola do Catar, nos Emirados Árabes Unidos, que foi detida e torturada por isso", explicou ainda.

O responsável da Amnistia Internacional salientou ainda que a eleição deste novo Presidente é motivo de preocupação.

"Preocupa-nos muito porque a Interpol não pode agir com estes métodos. Tem de respeitar a lei internacional, tem de respeitar os direitos humanos e os fins nem sempre justificam os meios. A tortura não é um meio válido para exercer justiça ou para obter confissões e é isso que tem de ser assegurado à Comunidade Internacional, que a Interpol não vai agir deste modo e que vai ser cumpridora", disse ainda.

Pedro Neto reiterou a importância da Interpol ter a "credibilidade e a confiança dos cidadãos", algo que está a ser posto em causa com esta eleição. 

Questionado sobre se esta escolha coloca os opositores do regime em cheque, o responsável da Amnistia Internacional foi bastante claro na sua resposta.

"Já está em cheque antes do regime nos Emirados Árabes Unidos. Não é um país que cumpra os direitos civis e políticos em pleno, portanto, isso já está em cheque. Aquilo que a Comunidade Internacional demonstrou, os representantes que o elegeram é que uma pessoa que comete crimes em nome do Estado, em nome da justiça, em vez de ser punida é premiada e sobe na sua carreira e isso é que não pode acontecer", reiterou.

Recorde-se que o cargo de Presidente da Interpol é essencialmente honorário. O verdadeiro chefe da organização é o secretário-geral, mas várias organizações de direitos humanos e os eleitos europeus opuseram-se à eleição de Ahmed Nasser al-Raisi, uma vez que consideram que a escolha vai prejudicar a missão e essência da Interpol.(x) Fonte: RFI

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