O Chile realiza, este domingo, a segunda volta das eleições presidenciais que opõem o advogado de extrema-direita José Antonio Kast e o antigo líder estudantil de esquerda Gabriel Boric. Os candidatos representam dois modelos antagónicos e têm pela frente um país mergulhado, há dois anos, na mais grave crise económica e social das últimas três décadas.
Estas são consideradas as presidenciais mais importantes da história recente do Chile, que põem fim a 30 anos de alternância política entre os dois blocos de centro que partilharam o poder desde o final da ditadura militar de Augusto Pinochet, em 1990, e que opõem duas visões completamente opostas da sociedade.
Na primeira volta, a 20 de Novembro, o candidato mais votado foi o ultraconservador José Antonio Kast, um advogado de extrema-direita, de 55 anos, defensor do legado de Pinochet, católico fervoroso, pai de nove filhos, que quer a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo e que defende a criminalização do aborto.
José Kast propõe uma vedação na fronteira para impedir a entrada de migrantes, defende um corpo policial especializado na detenção de estrangeiros em situação irregular e aposta no neoliberalismo e no mínimo de intervenção do sector público na economia.
A enfrentá-lo está o líder da Frente Ampla e antigo líder estudantil de esquerda Gabriel Boric, de 35 anos, que, em 2019, participou nos mega protestos populares, conhecidos como “o estallido”, e que defendiam mudanças profundas e o fim das desigualdades.
Gabriel Boric quer construir no Chile um Estado social com parâmetros semelhantes à social-democracia europeia, com um sistema de saúde gratuito e universal, universidades sem propinas e a eliminação do sistema privado de pensões, tudo financiado por uma subida dos impostos dos mais ricos e das empresas de exploração mineira.
O próximo Presidente do Chile vai enfrentar um país mergulhado, há dois anos, na mais grave crise das últimas três décadas, com uma inflação galopante, um sistema de pensões descapitalizado e uma desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19.
Paralelamente, continuam os trabalhos da Assembleia Constituinte eleita este ano para redigir uma nova Constituição, algo que foi uma das conquistas dos protestos populares, que comporta expectativas elevadas em termos de justiça social, igualdade de género e racial, e que é considerado como uma forma de encerrar de vez o legado da ditadura de Pinochet. No final de 2022, os chilenos vão a referendo pronunciar-se sobre se aprovam ou não a nova Constituição, o que poderá até precipitar novas eleições presidenciais.(x) Fonte: RFI