Autoridades da província do Niassa apresentaram um balanço completo da situação no distrito de Mecula, quase sete semanas após o início dos ataques insurgentes. Deslocados estão em segurança, mas vivem em más condições.
Com a insurgência a alastrar-se da província de Cabo Delgado para a província do Niassa, surge também o drama dos deslocados internos. Por causa do ataque de 8 de dezembro, por exemplo, Arlindo Saíde deixou a aldeia de Lichengue.
"Foi um ataque, eu vivia lá em cima. Fugimos e voltámos no dia seguinte. Começou às 18 horas, mataram uma mulher que depois foi envolvida com capim e queimada", explica.
Segundo Saíde, não houve intervenção das forças de segurança no dia da violência, só no dia seguinte apareceram.
Outro cidadão, Costa Laginha, conta que também fugiu da sua aldeia, Macalange, por causa da "guerra" dos insurgentes.
"Entraram aí pelas 15 horas e nós fugimos pelo mato por termos medo deles". Quando chegaram, "queimaram as casas e depois veio o Governo tirar todas as pessoas e vieram nos colocar aqui na sede".
"Continua a haver medo"
Estes deslocados foram acolhidos pelas autoridades em Mecula-sede, região que na última semana mereceu atenção especial das autoridades provinciais. Aqui apresentaram um balanço da situação, desde o primeiro ataque, a 25 de novembro.
O administrador de Mecula, António Joaquim Paulo, lembrou que a investida começou concretamente na zona Buchiuca, contra um carro de patrulha de fiscais da Suez Investment. Disse ainda que a 27, 29 e 30 de novembro e nos dias 2, 8 e 22 de dezembro foram atacados os povoados de Naulala I e II, Macalange, Nalamo, Lichengue e Napiqueche.
Segundo o administrador, cinco pessoas morreram nos ataques, duas viaturas foram destruídas e houve a vandalização de dois centros de saúde e o saque de medicamentos.
Os serviços administrativos da localidade de Naulala também foram destruídos parcialmente, por fogo posto. Ao todo, 554 casas foram incendiadas: "28 em Naulala I, 58 em Naulala II, 122 em Macalange, 283 em Lichengue e 63 em Napiqueche. [Houve também a] destruição da tenda da força de fronteiras, a secretaria da EPC em Macalange, duas salas de aulas da EPC de Napiqueche, uma moageira, tudo por fogo, para além de terem incendiado seis motorizadas e do saque indeterminado a barracas".
António Joaquim Paulo acrescenta que "houve e continua a haver desgraças, medo e pânico generalizado, tanto nos locais diretamente afetados, como nos circunvizinhos, incluindo Mecula".
"A comida não chega"
O responsável diz que, de 25 de novembro a 11 de janeiro de 2022, Mecula-sede recebeu 1192 famílias, o que equivale a 3803 deslocados.
Essas pessoas estão agora em segurança, mas não é o fim dos seus problemas: Costa Laginha fala de escassez de comida e na falta de condições em Mecula-sede.
"A comida não chega, uma pessoa recebe 5 kg, dizem que deve comer 15 dias. Não há caril, não há sal, não há açúcar. Temos uma tenda onde dormem duas famílias. Com vinte pessoas numa casa não dá." (x) Fonte:DW