O Mali, cuja situação é um dos pontos da agenda da cimeira da CEDEAO hoje em Accra, entrou em incumprimento, as suas autoridades alegando que isto se relaciona com as sanções aplicadas pelos países da sub-região. Isto acontece numa altura em que a França encara a possibilidade de reavaliar a sua presença militar no país, com o qual aumentou a tensão depois de as autoridades malianas decidirem expulsar o embaixador francês de Bamako.
As autoridades do Mali anunciaram ontem que apesar da disponibilidade de fundos para honrar os seus compromissos, não pagaram os montantes devidos ao mercado financeiro regional no final do mês passado, alegando que isto se relaciona com as sanções aplicadas pelos países da CEDEAO em resposta ao último golpe de Estado ocorrido no ano passado e à ausência de calendário para um regresso rápido à normalidade constitucional.
“Por causa das restrições e apesar de o Tesouro Público do Mali ter activos suficientes em carteira, o Banco Central (dos Estados da África Ocidental, BCEAO) não procedeu ao pagamento da prestação do dia 28 de Janeiro de 2022”, afirmou em comunicado o governo o executivo do Mali, país que além de ter sido suspenso da CEDEAO logo após o seu segundo golpe em Maio de 2021, também foi alvo de um reforço das sanções parte dos seus parceiros regionais no passado dia 9 de Janeiro.
As medidas adoptadas para pressionar a Junta Militar a apresentar um calendário para a restituição do poder aos civis, incluem nomeadamente a suspensão de todas as transacções comerciais e financeiras dos Estados membros com o Mali, tendo sido congelados os activos de Bamako naqueles países. De fora, ficam apenas os fluxos de bens de consumo e produtos de primeira necessidade.
França e Alemanha querem reavaliar a sua presença militar no Mali
Estas novas dificuldades vêm juntar-se a um panorama diplomático e de segurança delicado, com a França e a Alemanha a considerarem a possibilidade de reavaliar a sua presença militar no país, numa altura em que a tensão entre Paris e Bamako chegaram a um ponto inédito. Na passada segunda-feira, o executivo maliano anunciou a sua decisão de expulsar o embaixador de França no Mali, depois de o chefe da diplomacia de Paris, Jean-Yves Le Drian, ter recentemente qualificado de ilegais as autoridades de transição malianas.
A ministra francesa da Defesa, Florence Parly, encontra-se desde ontem no Níger onde está a efectuar contactos com as autoridades locais no sentido de discutir as modalidades da presença francesa no Sahel, isto depois de ter declarado no passado fim-de-semana que "a França não manterá a presença militar no Mali a qualquer custo". A França que contabiliza um pouco mais de 5 mil militares no Sahel, com uma parte substanciais dos seus contingentes no Mali, anunciou no ano passado a sua intenção de reduzir os seus efectivos e reorganizar a sua repartição.
A par da França, a Alemanha que participa no esforço de luta contra o jihadismo no Sahel com 1.500 soldados no Mali, também deu conta esta semana da sua intenção de rever o seu dispositivo. A secretária de Estado alemã para os Negócios Estrangeiros, Katjia Keul, está em deslocação hoje no Mali no intuito de se avistar com as autoridades locais. Ainda ontem, Berlim disse actuar "em estreita concertação com os seus parceiros internacionais e a união Europeia, nomeadamente a França, sobre a forma como vai dar continuidade à sua presença no terreno".(x) fonte:RFI