Arranca este sábado em Addis Abeba, Etiópia, a 35ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana. A pandemia da Covid-19, os golpes de Estados sucessivos no continente e o estatuto de Israel como “membro observador” são alguns dos temas na ordem do dia.
Depois de dois anos de reuniões virtuais, a capital etíope volta a acolher este fim-de-semana a cimeira da União Africana. Vinte anos depois da criação da organização pan-africana, a agenda da cimeira é densa, com a pandemia da covid-19, os recentes golpes de Estado no continente ou a luta contra o terrorista. Todavia, as reuniões preliminares dão a entender que apesar da longa lista de problemas a debater, vai ser a questão de Israel que vai dominar o encontro.
A polémica remonta a Julho do ano passado, quando o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, aceitou a acreditação de Israel, com o estatuto de observador, junto da organização de 55 estados-membros. Uma decisão que Israel esperava há duas décadas.
Pretória foi a primeira a contestar, sublinhando que lhes foi apresentado uma decisão já consumada que vai contra numerosas declarações da União Africana de apoio aos Territórios Palestinianos.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros não conseguiram chegar a um consenso nesta matéria em Outubro e, por isso, a África do Sul e a Argélia, grandes opositores de Israel, colocaram a questão do “estatuto de observador” de Telavive na ordem do dia.
Um estatuto que é defendido por países como o Ruanda e Marrocos, que consideram ser benéfico para o continente poder usufruir dos conselhos israelitas em matéria agrícola, tecnológica e de luta contra o terrorismo.
O assunto é altamente sensível e vinte anos após a criação da União Africana pode resultar numa cisão sem precedentes.
Especialistas consideram que Israel vai ocupar grande parte das discussões e ofuscar situações que afectam terrivelmente o continente como a situação na Líbia, a incerteza na Somália, o conflito no Tigré (Etiópia), o Burkina Faso, o Mali, a situação em Cabo Delgado (Moçambique) ou até o golpe de estado falhado na Guiné-Bissau. A questão dos golpes de estado é de tal forma preocupante que vários países sem presidente legítimo não serão representados na cimeira.
Este sábado, Cyril Ramaphosa, presidente sul-africano, fará um balanço sobre a resposta africana à pandemia. De acordo com os dados do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, até 26 de Janeiro, apenas 11% dos 1,2 mil milhões de africanos estão completamente vacinados. Muito longe do objectivo fixado para o final do ano que é de atingir 70% da população.
Esta cimeira servirá, ainda, para Félix Tshisekedi, presidente da República Democrática do Congo, passar a presidência rotativa da União Africana ao chefe de estado senegalês Macky Sall.(x) Fonte: RFI