Os pescadores de Inhambane, sul de Moçambique, estão proibidos de pescar à noite por causa da época da veda. Mas estão a sentir o peso da proibição na carteira e pedem alternativas.
A pesca à noite está proibida na província de Inhambane, sul de Moçambique. Só é permitido pescar durante o dia, numa pequena área. E os pescadores fazem contas à vida.
Nélia Rafael trabalha nos barcos de pesca e conta que "quando os barcos iam de noite traziam peixe, camarão, lula, caranguejo, mas agora não".
A veda temporária começou a 15 de janeiro e prolonga-se até ao final de março. O objetivo, segundo o Governo, é proteger as espécies, para que haja peixe no futuro. Francisco Feijão, diretor provincial da Agricultura e Pesca em Inhambane, explica que "este período visa fundamentalmente a recuperação do ecossistema, porque boa parte das espécies estão em reprodução."
As queixas
Mas as medidas implementadas este ano não estão a agradar aos pescadores e vendedeiras de peixe na província de Inhambane.
No passado era melhor, diz João Tinga Sumburane, proprietário de barcos de pesca em Maxixe.
"Quando nós vedávamos, não se vedava para não se trabalhar à noite, porque o peixe que adquirimos de dia não é o mesmo que adquirimos de noite. À noite, pelo menos, apanha-se qualquer coisa. A situação está mesmo péssima e temos crianças nas escolas", queixa-se.
Os prejuízos acumulam-se, e a maioria das pessoas aqui sobrevive da pesca. Esperança Amélia, peixeira em Inhambane, também se mostra preocupada: "Aqui estamos, a depender da maré. Estamos a sofrer muito".
Pescado mais caro
A peixeira Esperança pede ao Estado, pelo menos, algum apoio, enquanto os pescadores não podem voltar a pescar normalmente.
Como os pescadores pescam pouco, tentam vender o peixe caro. Mas os clientes não têm como pagar, diz a vendedeira Zélia Olímpia: "Está muito caro. Vendem-nos esta metade de bacia [de 20 litros] a 3.000 meticais [40 euros]. Mas como posso vender no mercado? Assim estamos a passar mal."
Damião Alfeu, pescador em Inhambane, diz que está a passar fome, porque não tem outro emprego.
"Temos que cumprir, se o Conselho Comunitário de Pesca (CCP) decidiu ser 90 dias, não há como. Mas há mesmo muita fome", conforma-se.(x) Fonte:DW