Duas pessoas foram mortas a tiro durante tumultos no distrito de Molumbo, província da Zambézia. Comandante provincial da polícia afirma que "foram alvejados na tentativa de impedir a destruição do posto policial".
As forças de segurança moçambicanas mataram duas pessoas durante tumultos no distrito de Molumbo, na província da Zambézia. O comandante provincial da Polícia da República de Moçambique confirmou as duas mortes durante uma conferência de imprensa, esta quarta-feira (09.03).
"Havia tendência para destruição do posto policial e, na tentativa de conter os ânimos, dois cidadãos foram alvejados mortalmente e um ficou ferido", afirmou o comandante Aquilasse Kapangula. "Foram alvejados na tentativa de impedir a destruição do posto policial e foram alvejados por balas perdidas", acrescentou.
Kapangula frisou que a intenção não era matar as pessoas, mas dispersar a multidão. Ao que a DW África apurou, quatro pessoas foram detidas na sequência dos tumultos.
Versões diferentes da história
O conflito entre a população e as autoridades moçambicanas começou na segunda-feira, no posto administrativo de Coromana, junto à fronteira com o Malawi. As autoridades distritais proibiram o uso exclusivo da moeda malawiana, o kwacha, nas trocas comerciais, e os cidadãos revoltaram-se, informou a Polícia da República de Moçambique.
Os tumultos agudizaram no dia seguinte. Perante a fúria da população, membros das Forças de Defesa e Segurança lançaram gás lacrimogéneo e dispararam na direção dos manifestantes.
Mas vários populares contactados pela DW África rejeitam que a rebelião no Molumbo tenha sido causada pela interdição do uso exclusivo da moeda malawiana. O problema, segundo eles, foi a resposta musculada das autoridades perante a insatisfação popular. Os cidadãos não quiseram gravar entrevista por motivos de segurança.
Situação precisava de "mais inteligência" da polícia
O historiador Bruno Mendiate lamenta as mortes. "Julgo que houve uma falha de estratégia das forças de segurança. Há certas situações que precisam mais da inteligência do que do uso de força", afirma em entrevista à DW.
Mendiate lembra que o uso da moeda malawiana em território moçambicano é uma questão antiga, e tudo pode e deve ser tratado pela via diplomática.
"Desde que Moçambique é Moçambique, em quase todas as zonas vemos as nossas populações a usar mais a moeda de outro país em relação ao metical, porque as populações têm mais mercado de produtos do outro lado da fronteira do que no próprio país", explica.
O comandante provincial da Polícia da República de Moçambique na Zambézia anunciou, entretanto, que enviou mais homens para o posto administrativo de Coromana, porque teme que a situação na zona se agrave a qualquer momento.
"O comando provincial tratou de reforçar a segurança naquele posto policial e, neste momento, posso garantir que a situação de ordem pública está controlada", afirmou.
Aquilasse Kapangula não adiantou se será aberto um inquérito aos eventos em Coromana.(x) Fonte: DW