Faltam oportunidades de trabalho para a juventude em Inhambane. Jovens ouvidos pela DW denunciam assédio sexual e exigência de subornos para ter acesso a vagas.
Milhares de jovens com nível médio de escolaridade e até mesmo licenciados estão há anos à procura de trabalho na província de Inhambane, mas sem sucesso.
Stélia da Sónia Matsinhe, natural do distrito de Homoine, terminou os estudos em 2019, mas até ao momento está sem ocupação. A jovem lembra que já foi assediada sexualmente em troca de emprego.
"Há três anos sem emprego e sem fazer nada, os que têm capacidade ou têm empresas podem dizer 'tu podes ser minha mulher e vais ter emprego', encontram uma menina que está aflita em querer trabalho e que acaba se envolvendo", conta.
Já para Pedro Abílio não está a ser fácil entrar em qualquer formação ou ter emprego sem ter que pagar algum dinheiro: "É preciso criar forma de arranjar costas quentes, ou soltar refresco [suborno] para só ter aquela garantia, ter dinheiro hoje em dia é muito difícil".
Sem suborno não há emprego
Situação semelhante aconteceu com Dulce da Graça Alberto. A jovem diz que concorreu a vagas de formação na Polícia da República de Moçambique, mas não conseguiu entrar porque não tinha dinheiro para pagar a terceiros que poderiam facilitar a sua entrada.
"Na polícia não consegui, chumbei logo no primeiro exame, não fui atrás porque não tenho dinheiro. Vou acumulando o valor para poder concorrer", explica.
Enquanto os jovens não conseguem ter emprego, o Governo tem alocado fundos de iniciativas juvenis para autoemprego, mas poucos projetos têm sido beneficiados. E há suspeitas de desvio de recursos.
Fanuel Jornal Baquete, presidente da Associação dos Naturais e Amigos de Inhassoro (AJONAI), explica à DW que, por falta de fundos, a sua organização não conseguiu aliviar a situação do desemprego naquele distrito.
"Aquele fundo que nos tinham prometido não nos foi dado. Estávamos contemplados como AJONAI, mas nenhum dinheiro entrou", afirma.
Não foi possível ajudar todos os distritos
Segundo Hélder Jossias, diretor provincial da Juventude e Emprego em Inhambane, os fundos de iniciativas juvenis abrangeram apenas cinco distritos num total de 74 projetos para rendimento sustentável.
Questionado sobre alegados casos de corrupção na atribuição dos recursos, o diretor não se pronuncia.
"Os projetos são financiados ate 450 mil meticais [cerca de 6.400 euros]. São valores que estimulam a juventude a fazer alguma coisa para sua renda e sua sustentabilidade, por isso não foi possível ter um valor para todos distritos avançarem de uma única vez", explica.
Segundo os concorrentes, para ter uma vaga de formação na Polícia, cada candidato deve pagar "por baixo da mesa" um valor de 60 mil meticais, cerca de 900 euros, enquanto ter um emprego na educação chega a custar aos professores licenciados 150 mil meticais, o equivalente 2 mil euros. As autoridades distanciam-se destes relatos de venda das vagas.(x) Fonte: DW