O estudo sobre retornados de terrorismo realizado recentemente pelo Instituto para o Desenvolvimento Econômico e Social nas províncias de Nampula, Niassa e Cabo Delgado revela dentre vários problemas, a existência de novos patrões que decidem quem deve ou não receber ajuda humanitária nos centros de acomodação de vítimas do terrorismo na província de Cabo Delgado, região Norte de Moçambique.
“O maior problema é que estão a surgir novos patrões, novos patrões são aquelas autoridades tradicionais e locais que de alguma maneira num passado muito recente reconheceu o seu papel que é de apoiar, fazer chegar a informação as comunidades mas nesse estudo que fizemos identificamos que eles estão a tentar se constituir num novo dirigente local, aliás quem faz a lista para as pessoas receberem apoio alimental são as autoridades locais, quem determina quem tem que receber o apoio são as autoridades locais e a partir do momento que eles identificam que as autoridades é quem determina quem deve receber o apoio, então eles se constituem em novos patrões, esse é um grande problema que no futuro se não controlarmos poderá se efectivar no contexto dos centros de deslocados e também nos distritos em que as pessoas se deslocaram”, disse Director Executivo do Instituto para o Desenvolvimento Económico e Social (IDES), Fidel Tereciano.
O Director Executivo do IDES, Fidel Tereciano, que falava esta quinta-feira em Pemba, na cerimônia de lançamento e divulgação do estudo sobre retornados de terrorismo, disse que durante as investigações no terreno, constatou-se o conflito étnico-cultural entre os as famílias deslocadas de guerra e alertou as consequências que o mesmo poderá causar.
“Há conflitos sérios entre os deslocados do ponto de vista social e cultural, principalmente do ponto de vista étinico, há um conflito que já se instalou e é preciso com que o Estado enquanto agregador de interesses e articulador dos interesses, capture esse elemento de conflito latente do ponto de vista étinico-cultural e comece a trabalhar em cima dele se não nós próximos tempos o próximo conflito que nós teremos é sobre um conflito étinico-cultural. Para os Macondes e os Mwanis por exemplo, que estavam em Montepuez entendem que os Macuas de Montepuez não os receberam, para os Mwanis de Macomia entendem que os Macuas de Chiúre não os acolheram e eles dizem: um dia vocês voltaram para Mocimboa da Praia ou Palma na nossa casa e nós também não iremos vos acolher e não iremos dar a nossa mão”, referiu Fidel Tereciano.
O Secretário de Estado e Governador da província de Cabo Delgado, que falavam a margem do lançamento e divulgação do estudo do IDES, congratularam a iniciativa.
“O que eu queria que acontecesse é que deve haver mais instituições como o IDES para discutir desafios de Cabo Delgado”, afirmou Secretário de Estado na província de Cabo Delgado, Antônio Supeia.
“Essa é que deve ser a missão e visão desta entidade (IDES) e outras, procurar soluções dos problemas locais, daquilo que nós acompanhamos aqui, há muita coisa que nos chama atenção e nós vamos seguir os pontos destacados”, disse Governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo.
Sobre o regresso das vítimas do terrorismo às suas zonas de origem, Fidel Tereciano, disse que:
“Aqui há duas situações, em primeiro lugar temos que entender que o governo do dia entende que o regresso é voluntário, em segundo lugar as populações tem uma vontade genuína de regressar na sua zona de origem, mas ao mesmo tempo há informação e desinformação sobre como regressar, no momento de você subir o carro para regressar na sua zona de origem estás a assumir duas situações entre a verdade que chegou a si por uma pessoa que você confia como um amigo que já está em Palma, Mocimboa da Praia ou Macomia e uma outra inverdade por exemplo que foi comunicada por um líder comunitário, então é um risco que você assume porém como uma vontade genuína de regressar para o local de origem o que leva com que as pessoas voltem para a origem”, frisou Fidel Tereciano.
Reagindo aos problemas constatados no estudo, o governo provincial prometeu seguir os casos.
“Em relação a determinadas conclusões que o IDES nos traz do estudo, nós queremos nos comprometer que vamos dar seguimento a isto, o estudo falou provavelmente de novos patrões, nós vamos averiguar a situação, este estudo é o que nós esperamos, que a ciência deve nos dar luzes para podermos decidir, não podemos decidir com base as nossas emoções, devemos decidir com base naquilo que a ciência nos diz, os caminhos que nos dão e alguns desses caminhos foram aqui apresentados pelo IDES, mais uma vez eu quero encorajar o IDES”, realçou Secretário de Estado em Cabo Delgado, Antônio Supeia.
O instituto para o Desenvolvimento Económico e Social (IDES) é uma organização da sociedade civil, criado por jovens de Cabo Delgado que actua para o desenvolvimento sustentável das comunidades, vai realizar no próximo dia 21 de Abril de 2023, a primeira Conferência Nacional dos Deslocados, que terá lugar na Cidade de Pemba, província de Cabo Delgado.
Importa referir que, a cerimônia de lançamento e divulgação do estudo do IDES sobre retornados de terrorismo foi testemunhada por várias individualidades como o Secretário de Estado na província, Governador de Cabo Delgado, Administradora do distrito de Pemba, Académicos, Políticos, órgãos de comunicação social e representantes de algumas organizações da sociedade civil.(x)
Por: Morais Selemane