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sexta-feira, 10 março 2023 07:25

Moçambique: Morreu Edson da Luz (Azagaia) vítima de epilepsia

O conceituado rapper moçambicano Edson da Luz, mas conhecido por Azagaia, morreu na tarde de ontem, quinta feira, 09 de Março de 2023 aos 38 anos de idade.

Filho de uma comerciante moçambicana e de um professor cabo-verdiano, Edson da Luz nasceu no dia 06 de Maio de 1984, em Namaacha, Província de Maputo.

Aos 10 anos de idade, o cantor mudou-se para a capital do país, local onde viria a concluir o ensino médio e ingressou numa universidade. Ainda em Maputo, Azagaia passou pelas camadas de formação de basquetebol do Desportivo de Maputo.

Iniciou a carreira musical com 13 anos, integrando com o grupo Dinastia Bantu, com MC Escudo, e lançou, em 2005, o álbum Siavuma.

No dia 10 de Novembro de 2007, Azagaia editou o seu primeiro álbum a solo, intitulado “Babalaze” (que significa ressaca) pela editora Cotonete Records. O lançamento atingiu recorde de vendas no dia de estreia.

“Babalaze” contou com as participações de Terry, em “Eu Não Paro”, e de Valete, em “Alternativos”. O álbum continha músicas bastante críticas ao Governo moçambicano, facto que impediu que algumas faixas fossem tocadas nos canais públicos.

Das músicas consideradas polémicas, destacam-se “As Mentiras da Verdade” e “A Marcha”, este último que bateu recordes de vendas.

Numa retrospectiva dos principais acontecimentos em Moçambique, Azagaia lançou “Obrigado Pai Natal”, em 2007, e “Obrigado de Novo Pai Natal”, em 2008.

Depois da revolta popular de 05 de Fevereiro de 2008, em Maputo, Azagaia apresentou o tema “Povo no Poder”, que lhe valeu uma intimação para se apresentar na Procuradoria-Geral da República, suspeito de “atentar contra a segurança do Estado”. A música voltaria a ser lembrada na revolta popular de 1 e 2 de Setembro de 2010.

Em declarações feitas pela família do rapper, revelam a causa da morte e desmentem as informações que circulam, sobre o mesmo ter caído do telhado.

"Ele estava em casa sozinho, tinha lá um eletricista a fazer um trabalho, então por acaso, dizem que ele estava na varanda, a ensaiar, sentiu necessidade de ir descansar, despediu o electricista, disse vou descansar, assim que terminares é só bater a porta para eu sair, ele foi descansar e o electricista quando terminou o trabalho, foi bater a porta e ele não respondia, na verdade ele sofria de epilepsia, sempre ele desmaiava, mas quando a família estivesse por perto, levava a ele para apanhar ar fora de casa , então ele estava sozinho e teve ataque de epilepsia lá no quarto a descansar, quando o electricista foi bater a porta do quarto ele não respondia e por coincidência estava a entrar o irmão dele, e o electricista explicou que ele terminou o trabalho, foi bater porta como tinham combinado, mas ele não responde , quando o irmão também bateu na porta ele não respondia também, o irmão tira a porta e viu que ele já tinha desmaiado a bastante tempo e já tinha ido embora , não foi nada disso que estão a contar , se alguém estava no telhado, era o electricista e não ele, ele perdeu a vida no quarto vítima de ataque de epilepsia que já sofria a bastante tempo"- disse, a Família do Rapper Azagaia.

Numa entrevista com Carlos Serra, Azagaia foi questionado porque é um critico social, em resposta, Azagaia teria contado um pouco da sua vida.

Às vezes faço-me essa pergunta e pergunto-me também por quê não sou um artista igual a tantos que cantam sempre a alegria, o amor e a beleza da vida, a resposta não é facil, talvez recuar um pouco na minha história, nasci na vila da Namaacha filho de pai cabo verdeano e mãe moçambicana, dizem que sou mulato e por isso quando criança sofria discriminação, diziam que eu não tinha bandeira, logo aos 10 anos vi os meus pais separarem-se e venho morar em Maputo, tenho um contacto brusco com a realidade da selva que é a cidade, vivendo apenas com a minha mãe e meus irmaõs, assisto à batalha constante que a minha mãe travava para nos sustentar, a minha mãe sempre dizia para eu estudar para vencer na vida, enquanto isso ia assistindo pessoas sem estudo ou qualquer cultura académica a singrarem na vida à custa de “esquemas”, uma série de contrastes, meu pai ajudou no gosto pela leitura e descobri mensagens de revolta, esperança e alternativa nos poemas de José Craveirinha, descobri assim uma maneira de estar na sociedade, contribuir com a crítica para melhorar o meu meio, escrevi poemas e depois entrei na música de modo mais interventivo"- disse, Azagaia, numa entrevista com Carlos Serra em 2007.

Famoso e acarinhado pela forma crítica como que abordava as questões sociais, até políticas, Azagaia era considerado, pelos seus fãs, como a “voz do povo”.

Por: Saide Latifo

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