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terça-feira, 05 janeiro 2021 07:56

Cabo Delgado: Terrorismo não vai parar projetos de gás, diz analista

Membros das Forças Armadas de Moçambique em Cabo Delgado Membros das Forças Armadas de Moçambique em Cabo Delgado

Os grupos de terroristas que têm protagonizado ataques armados em Cabo Delgado efetuaram, pelo menos, dois ataques próximos dos megaprojetos liderados pela francesa Total no final de dezembro.

Numa nota à imprensa, a Total informou esta segunda-feira (04.01) que reduziu temporariamente a sua força de trabalho no local do projeto, em resposta ao "ambiente prevalecente", acrescentando estar em "contato permanente" com as autoridades moçambicanas. "O ambiente operacional permanece em avaliação contínua e a Total mantém uma comunicação constante com as autoridades moçambicanas sobre o assunto", frisou a empresa.

O projeto é o maior investimento privado em África, da ordem de mais de 15 mil milhões de euros. 

A violência armada em Cabo Delgado começou há três anos e está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos. Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019.

A DW África entrevistou Fernando Cardoso, especialista em assuntos africanos, a propósito dos mais recentes desenvolvimentos em Cabo Delgado.

DW África: A crescente aproximação dos terroristas ao maior investimento privado em África pode comprometer os projetos de gás?

Fernando Cardoso (FC): Na minha perspetiva não, pelo menos neste momento. O que a Total fez foi acionar um protocolo de segurança em que há uma retirada do pessoal trabalhador para zonas mais seguras, neste caso para a capital da província [Pemba], para permitir que as Forças Armadas moçambicanas que estão no terreno - possivelmente com a colaboração de forças de segurança da própria empresa - façam operações de limpeza do perímetro de Afungi. Convém clarificar que aquilo que foi atacado não foi a área de trabalho propriamente dita, mas sim o perímetro de segurança de Afungi, mais em concreto, duas aldeias que serviam de local de residência de trabalhadores e familiares de trabalhadores.

DW África: A consultora Fitch Solutions entende que os ataques continuam a ameaçar a construção dos projetos de gás e futuros investimentos... Não partilha desta previsão da Fitch Solutions?

FC: Vou dizer-lhe porque é que não partilho. Desde o início deste mês, houve um aumento da capacidade operacional de forças especiais moçambicanas no terreno que provocaram alguns dissabores e recuos de forças jihadistas. Essas forças especiais moçambicanas ocuparam um centro nevrálgico estratégico que estabelece as comunicações entre o norte e o sul da província. Do meu ponto de vista, o que está a acontecer é uma contrarresposta e uma guerra de movimento por parte das forças jihadistas. 

A segunda razão pela qual não partilho dessa opinião tem a ver com o facto de a Total ter tomado uma decisão final de investimento que envolve ao longo do tempo cerca de 20 mil milhões de dólares (o equivalente a 16 mil milhões de euros). Uma decisão final de investimento só é tomada com dois pressupostos básicos: o primeiro é que existam compradores seguros para o gás que vai ser produzido; o segundo é que exista a capacidade de criar condições de segurança para que o projeto seja desenvolvido. 

DW África: As Forças de Defesa e Segurança (FDS) têm relatado sucesso nas investidas contra os terroristas. Ainda assim, os insurgentes conseguiram chegar às imediações do projeto da Total. É caso para se relativizar as conquistas do Exército moçambicano?

FC: Claro. São conquistas parciais, temporárias... Ninguém consegue prever o futuro. O que podemos dizer é que houve uma mudança de atuação e um posicionamento ofensivo por parte das forças armadas moçambicanas que estavam na defensiva. É claro que não conseguimos prever o futuro.(x) Fonte: DW

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