O conflito armado em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma grave crise de saúde mental na província desde dos finais do ano 2017.
O Chefe de Saúde Mental na Província de Cabo Delgado, Jamal Macossa, revelou está segunda-feira, 23.09.2024, em entrevista exclusiva à Zumbo FM Notícias, que os casos de transtornos psicológicos têm aumentado drasticamente nos últimos anos, particularmente desde 2021.
Jamal Macossa descreve um cenário alarmante, com sintomas como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, distúrbios comportamentais e fobias a proliferar entre as pessoas vítimas do terrorismo.
"Os últimos dados mostram um aumento significativo dos casos de saúde mental. Nestes locais de reassentamento, vemos muitos pacientes a apresentar sintomas de depressão e ansiedade. Há pessoas que acordam a gritar no meio da noite devido a pesadelos recorrentes. Além disso, o consumo excessivo de álcool tem crescido, como uma tentativa de esquecer os traumas vividos", afirmou Macossa.
A fonte sublinhou que nos centros de reassentamento, grande parte da população deslocada vive em condições precárias, e o impacto psicológico é ainda mais evidente.
"Imagine alguém que vivia numa casa melhor e agora está a dormir numa cabana. Muitos acreditam que a vida já não tem sentido", sublinhou o chefe da saúde mental.
Apesar dos esforços das equipas de saúde, que realizam rastreios domiciliares para identificar casos de doenças mentais e encaminhá-los às unidades sanitárias, Macossa reconhece que nem todos aceitam procurar ajuda.
"Muitas pessoas têm medo de serem estigmatizadas como 'malucas' e não querem ir às consultas de saúde mental", lamentou.
Outro desafio grave apontado é a escassez de recursos para lidar com o trauma psicológico causado pelo conflito. Segundo Macossa, a falta de apoio humanitário consistente, especialmente em áreas como Chiúre, onde deslocados chegam a ficar meses sem receber alimentos, agrava ainda mais a situação.
"Quando vamos prestar apoio psicológico, encontramos pessoas exaustas e famintas, o que dificulta o nosso trabalho. Não podemos oferecer apoio a quem está em sofrimento físico e psicológico ao mesmo tempo", concluiu.
Com a redução contínua do apoio humanitário, a situação se torna cada vez mais crítica, aumentando o risco de que Cabo Delgado enfrente, no futuro próximo, uma crise de saúde mental ainda maior, com uma população predominantemente afectada por desvios comportamentais. (x)
Por: António Bote
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