A última temporada festiva foi fértil em sucessões de hits na Pátria Amada, pelo que se não estiver a laborar em manifesto equívoco, a música que dá título e este texto fechou o ano de 2020 nos píncaros das preferências dos moçambicanos. Trata-se da catalogação da ideia segundo a qual, na imensidão da nossa pobreza colectiva, a emergência de alguém com posses, capaz de comer carne e consumir, no cardápio diário, bebidas não habituais no seu meio, é motivo de se candidatar a ser vítima do feitiço dos vizinhos. Portanto, a exposição da sua vida boa - quando comparada a dos vizinhos - permite-lhe entrar no grupo dos fortes candidatos ao feitiço daqueles. Mas convém enfatizar que para ser esse candidato é necessário que os vizinhos saibam que ele tem vida boa, o que muitas vezes implica exibir essa vida boa.
Quando o chamado Novo Ciclo teve seu início em 15 de Janeiro de 2015, por via de um discurso profético e mobilizador, fomos convocados a assistir o nascimento de um novo modo de estar e governar, ao que se lhe chamou de GOVERNAÇÃO CIENTÍFICA (provavelmente, daí, emergindo a CERVEJA CIENTÍFICA), com o potencial de se distanciar dos aparentes males do Antigo Ciclo (do qual fazia parte no nóvel timoneiro, também nas vestes de Coordenador do Sistema Integrado de Monitoria e Protecção da Zona Económica Exclusiva de Moçambique), sendo uma das principais bandeiras, o combate ao despesismo.
Na senda do combate ao despesismo, vimos iniciativas (fugazes) do timoneiro (o também chamado Engenheiro do Planalto) viajando (veja-se, na Classe Executiva) em voos comerciais da nossa companhia de bandeira, dispensando o avião da Força Aérea, adquirido na era do despesismo. Andávamos todos inebriados na heróica luta contra o despesismo do Antigo Ciclo. Até se insinuou que as visitas presidenciais seriam em número e formato reduzido, em nome do combate ao cancro nacional.
Como todo Sol de pouca dura: TUTO MAFIA!
E como é que combatemos o despesismo hoje? Cito alguns exemplos:
1. O Timoneiro é capaz de visitar a mesma província e cidade mais de duas vezes por mês, em nome de sucessivas inaugurações, como se não fosse possível agrupar as inaugurações nessa província ou cidade, numa única visita. Na verdade, muitas vezes as viagens são apenas para inaugurar algo.
2. Como se o anterior avião da Força Aérea fosse insuficiente para combater o despesismo, lá fomos adquirir mais um (as más línguas dizem ser como da Beyoncé americana e não a nossa), exclusivamente para o Marechal do combate ao despesismo nas suas incontáveis viagens de inaugurações. Há quem diga que o avião da Beyoncé foi adquirido porque o anterior não inspirava confiança e nem garantia respostas inovadoras, tão pouco esperança renovada, pois estava infestada de maus espíritos do Antigo Ciclo, mas prefiro chamar isso de poeira e boato!
3. Gastamos 120 milhões de meticais para o resgate de Manuel Chang, vítima dos autores do resgate (sobre isso falaremos noutros carnavais), quando na mesma altura nos gabamos de ir fazer um peditório internacional para assistência no combate à Covid19, quando aqueles 120 milhões bem fariam jeito ao Dr Armindo Tiago, que hoje chora pela falta de meios.
É este o modelo de combate ao despesismo do Novo Ciclo, qual governação científica, obreia de cervejas científicas!
Com este festival de gastos - bem exibidos - quem é o vizinho que não nos vai enfeitiçar? Qual crise, qual quê! Ho xaniseka hi ku hanya bem (sofremos por viver bem. Quem disse que estamos preocupados com o corte do apoio dos parceiros de cooperação (que em boa verdade começou em 2012, sendo as dívidas ocultas a causa virtual irrelevante para a tomada da decisão)? Que se lixem esses parceiros: hi hanya bem e somos mapaga bem. Perguntem aos Mabundas desta vida!
Haaaaa, va vizinhoooo, hi kombela ku loyiwa!
Alexandre Chivale