No relatório 2020/2021 publicado esta quarta-feira, Amnistia Internacional afirma que “a pandemia expôs a desigualdade sistémica em todo o mundo e denuncia o "quase monopólio" dos países ricos sobre as vacinas.
A organização analisou a situação dos direitos humanos à escala mundial durante 2020, com dados de 149 países e concluiu que durante o primeiro ano de pandemia Estados privilegiaram “os interesses próprios nacionais, penalizando os mais frágeis e agravando as desigualdades''.
A secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, disse que a pandemia mostrou a incapacidade de o mundo cooperar de forma eficaz e justa.
“Os países mais ricos monopolizaram as vacinas, deixando os países com menos recursos confrontados às piores consequências em termos de saúde e direitos humanos, às mais longas perturbações económicas e sociais”, acrescentou.
As desigualdades acentuaram-se
Um ano após o surgimento do coronavírus na China, em finais de 2019, o mundo continua a lutar contra a pandemia que já fez 2,8 milhões de mortos e contaminou oficialmente cerca de 130 milhões de pessoas. Longe de ter criado uma onda de solidariedade, o Covid-19 aumentou as tensões e as desigualdades na vacinação, vista como a única porta de saída para a crise.
Metade de cerca das 680 milhões de doses foram administradas nos países mais ricos que concentram 16% da população, enquanto os países de baixo rendimento (9% da humanidade) receberam apenas 0,1%, segundo a análise da AFP que teve acesso a dados oficiais.
A Amnistia Internacional apoia as iniciativas como a plataforma (C-TAP) da Organização Mundial da Saúde que permite a partilha de conhecimento, da propriedade intelectual e de dados.
Ainda pouco utilizada, esta plataforma permite encontrar novas capacidades de produção e ajuda na construção de locais de produção suplementares, em particular em África, na Ásia e na América Latina
"A China foi irresponsável"
Para além das desigualdades no plano vacinal, a Amnistia considerou que a China foi “irresponsável” quando tentou censurar o pessoal médico e os jornalistas que alertaram para a pandemia e condenou a decisão do Presidente Donald Trump de retirar o país da OMS em plena crise.
A Amnistia denunciou ainda que a pandemia expôs a desigualdade sistémica em todo o mundo, com as minorias étnicas, os profissionais de saúde e as mulheres entre os mais afectados, sublinhando que a crise sanitária serviu de pretexto para acentuar a repressão e atacar os direitos humanos.
A organização evoca nomeadamente o aumento de restrições à liberdade de expressão em países como a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e na Hungria, tentando calar as críticas sobre a gestão da crise sanitária e qualificando-as de “informações falsas”.
O relatório evoca ainda a escalada da violência policial no Brasil e as manifestações #EndSars que foram violentamente reprimidas na Nigéria e o movimento Black Lives Matter’ nos Estados Unidos.(x) Fonte: RFI