Depois de ter sido retomado ontem o diálogo em Doha entre o governo afegão e os Talibãs, numa altura em que continuam os combates no terreno, o líder dos insurrectos declarou-se hoje "resolutamente a favor de uma solução política" no Afeganistão, "apesar do avanço e das vitórias militares" do seu campo nos últimos meses.
"Em vez de depender de estrangeiros, podemos resolver os nossos problemas entre nós (afegãos) e salvar a nossa pátria da crise". Foi o que declarou Hibatullah Akhundzada hoje numa mensagem por ocasião da festa muçulmana do sacrifício, o Aïd el Adha.
Retomado oficialmente no passado mês de Setembro, o diálogo estava no ponto morto até ontem. Neste sábado, as delegações reataram as discussões em Doha, no Qatar, no intuito de definir o futuro do Afeganistão numa altura em que os Estados Unidos, aliados do governo, estão prestes a terminar a retirada das suas tropas em finais de Agosto, após vinte anos de presença no país.
"Do nosso lado, estamos determinados em encontrar uma solução pelo diálogo, mas o campo adverso continua a perder tempo”, acrescentou o chefe dos Talibãs referindo-se às vitórias do seu campo no terreno. Nos últimos meses, as tropas governamentais que já não podem contar com o apoio dos americanos, têm perdido o controlo de boa parte do país. Desde o seu início em Maio, a ofensiva Talibã permitiu aos insurrectos conquistar vastas áreas rurais do país, assim como os principais postos fronteiriços com o Irão, Turcomenistão, Tajiquistão e Paquistão. As tropas governamentais já só controlam os principais eixos rodoviaários e as capitais provinciais.
Na sua mensagem, Hibatullah Akhundzada prometeu o restabelecimento do Emirado Islâmico que vigorou entre 1996 e 2001, até serem afastados do poder pela aliança liderada pelos Estados Unidos. De acordo com o chefe Talibã, o regime que pretendem restabelecer “quer relações diplomáticas, económicas e políticas boas e fortes com todos os países do mundo, inclusivamente com os Estados Unidos”.
No rol de garantias que o chefe Talibã apresentou, ele prometeu a alfabetização e garantiu que "o Emirado Islâmico terá um cuidado especial em criar um ambiente adequado para a educação das meninas", algo que não acontecia quando estiveram no poder, o responsável tendo também assegurado aos jornalistas o seu "compromisso com a liberdade de expressão, dentro dos limites da Sharia e dos interesses nacionais".
Esta mudança de tom que tem vindo a ser progressivamente operada pelos Talibãs, não convence totalmente. Perante o seu avanço no terreno, nestes últimos dias, tanto a França, como a India, a China, a Alemanha e o Canadá mandaram repatriar os seus cidadãos radicados no Afeganistão.(x) Fonte:RFI