Eulália Celeste de Sansão Muthemba, nasceu a 21 de Outubro de 1945, no Umbeluzi, Maputo. Filha de uma família de nacionalistas, com destaque para Mateus Sansão Muthemba, seu Tio e Josina Machel, sua prima. A veia nacionalista desponta desde tenra idade. A libertação de Moçambique do jugo colonial, era um fim único, em si mesmo. A sua família, com uma certa instrução e posição social, foi vítima das sevicias da PIDE pela frontalidade e oposição ao regime colonial. Ainda assim, a família Muthemba serviu de retaguarda para a luta na clandestinidade, e para o envio de militantes, para à Tanzânia, que ampliaram a Frente de Libertação Nacional.
Eulália Muthemba, passou a sua infância entre as cidades de Xai-Xai e Maputo, onde teve a oportunidade de fazer o ensino primário e secundário. Na década 60, quando a estratégia de erradicação do sistema colonial fervilhava, e com a unificação dos três movimentos então existentes, em torno da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), essa clandestinidade extrapolou. Dezenas ou centenas de jovens foram mobilizados para a causa, congregando-se na frente de libertação. Eulália Muthemba, ainda jovem, porém amadurecida politicamente, enceta a fuga para Dar-es-Salaam, via Swazilandia, para se juntar a Frelimo. Não obstante, essa fuga termina, da pior forma possível , na África do Sul. O regime do apartheid que sempre colaborou com o regime fascista português, prendeu e deportou Eulália Muthemba e outra centena, senão , milhares de jovens. Deste modo, Eulália Muthemba foi presa e reenviada de volta a Lourenço Marques. Permaneceu três anos encarcerada nas cadeias de Lourenço Marques e Mabalane, em Gaza.
Apesar de tudo ela continuou convicta e, firmemente, engajada na clandestinidade. Tinha razões de sobra para acreditar que fazia uma luta justa e inequívoca . A independência e a liberdade chegariam um dia. Não retornou a luta activa, pois continuou sob o severo escrutínio da policia política portuguesa. Com o golpe de Estado em Portugal, em Abril de 1974, Eulália Celeste de Sansão Muthemba viaja e visita, em Maio de 1974, pela primeira vez, a Tanzânia. Nessa deslocação ela teve a oportunidade de reunir com o Presidente Julius Nyerere, como forma de antecipar à preparação da independência nacional. A delegação incluía Matias Mboa, José Craveirinha, Josefate Machel, Rogério Ndzawana, Malangatana Valente Nguenha e Rui Nogar. Este grupo juntou-se a Samora Moisés Machel e Marcelino dos Santos.
Numa entrevista concedida a propósito da elaboração do livro bibliográfico do seu Tio Matheus Sansão Muthemba, que ousou escrever para Salazar sobre as atrocidades do colonialismo em Moçambique, ela o descreveu como “.... alguém que de forma desinteressada fazia tudo, apostando a sua própria vida, para que a independência de Moçambique se traduzisse numa realidade. Assim, sistematizar as suas realizações, os feitos mais marcantes é o compromisso desta geração......”
Ainda sobre o processo de libertação nacional, Eulália Muthemba afirmou : - Se aceitarmos que este exercício é um diálogo entre o passado e presente, então, concordemos que a responsabilidade da passagem deste testemunho da História de Moçambique, para as próximas gerações, que isso seja feita de forma mais objectiva possível, a bem da harmonia do país.
Eulália Celeste de Sansão Muthemba partiu para a eternidade, serena, subitamente, no dia 19 de Março de 2021, na cidade do Maputo. Deixa viúvo o seu esposo Cda. Feliciano Gundana, herói nacional da luta de libertação nacional, nacionalista de primeira hora e destacado líder. Deixa, igualmente, suas filhas Nadakawanika, Tapuwa e Muhlavasi. As legiões de antigos combatentes da luta de libertação nacional, também, lamentam a perda de uma das suas mais estimadas camaradas. Fica um enorme vazio para à família, para a sociedade e para Moçambique, país que ela serviu e se dedicou a vida inteira.(x)